domingo, 8 de fevereiro de 2015

A voz do vazio (Vox Inanis)


Por vezes é triste
qualquer felicidade
é como a voz eloquente
que me fala em tom
grave e silencioso,
de olhar sumido e disperso
no pensar dormente
e tremido
como um bafo líquido da luz

É um latido quente e fugaz
que crepita
contornado o vazio
e a esperança
que ficara esquecida
numa das gavetas do meu quarto...

Um verde alegre e primaveril
que esconde no seu
fino rosto
o olhar grave e distante
de um esquecimento

Um azul
claro e vivo
perfumado pelo silêncio
e pela erva aveludada
que ficara perdida no jardim
numa das ínfimas nuvens
que por lá passara

Um sorriso
que ficou perdido na alegria
de uma papoila
que à muito
murchara,

Apenas ficou o
esguio desenho dos
seus lábios
o seu vermelho deslizando na senilidade 
um beijo entre o silêncio e o vazio
um eterno abraço há própria loucura


Dizem que sou louco
de olhar carregado
e de estranhas palavras
sonho em alto
uma voz que não é a minha
uma voz do vazio

converso entre o linho
enrolado
do meu casaco de pensamentos
falo numa língua estranha
e ausente
como um lento murmurar
que nunca chega

como se escuta-se cada átomo
de mim
cada fio de inexistência
que o vento trouxera 
da imensa tristeza
de alguém...

Caía geada
sobre a minha própria imagem,
triste
Caía num manto
gelado e difuso
que me adormecia e sossegava
neste embalo da noite
a luz nívea
e poética
da lua
acendia-se para mais um adeus

Deitado na erva branca
fecho os olhos
e escuto a realidade
numa voz velha
que à muito se sumiu...
no tom grave das palavras
de uma divagação
profunda pelo éter do nada


Silenciada pelas ondas
e pelas marés
adormece uma voz salgada
friamente inventada
na sombra nívea do mar

(céu)

Caía o cotão velho
e o pó encardido dos mortos
na sombra branca e escura
como um céu invertido 
na sua própria contradição...

O céu revela
um abismo
que me adormecia
na sua vertigem
e que me abraçava em
tom de despedida
tocando-me cada palavra
cada artéria de sangue morno
e vivo...
que eu ocultava

PoReScRiTo

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