domingo, 30 de novembro de 2014

Serpente Estrelada

Duas línguas se cruzam,
Um olhar cansado
Todo ele pintado pela lua
O olhar mirrado
Ao sol
Onde a sombra ardia

O silêncio desenhava as estrelas
Leves escamas
Pendentes da névoa,
Um lento morder
Que lhe adormecia na boca

Parecia um beijo
Este céu espelhado
Pequenos olhares
Que se adivinham
Pendentes da macieira sombria
Da criação

O sangue jazia lentamente
Com o sabor doce
De uma maçã
Que lhe pendia
Do rosto estrelado

Seu beijo sabia a céu
À lua que toca o nada
Que arrefece cada sentimento,
Meu olhar esfria
Como o profundo cosmos
Ausente.
Desaparece nas cinzas
Que meu olhar não toca…

Ao longe só estrelas
Só estes tudos e nadas
Que a vertigem guarda no seu peito,
Olho, imaginado
A tristeza
De um cosmos
Tão silenciosamente belo,
tão abafado pela melancolia
que realça os seus contornos
de infinito e incerteza

Um tempo
que foi pintado à imagem
de um ser
que hoje não existe
e que arde em todas coisas
que já não parecem fazer sentido...

Que de tão velho e raquítico
Me parece cada vez mais
Uma criança
A sonhar à janela,
A brincar com as cores e perfumes
Com estes silêncios e vazios
Que larga ao vento
Para que alguém também
Sonhe este nada
Que tudo é…

Estou sozinho…
E a solidão é a coisa mais
Bela que deus nos ensinou,
…Pela sua simples ausência…
Ao se transformar no silêncio
Que oiço quando estou sozinho…

PoReScRiTo

sábado, 29 de novembro de 2014

Insónia do real


Uma linha opaca
Desenhada em estranhas figuras
Estranhas vagas coloridas
Escondidas pela pura inexistência
 
Uma consciência
Sonhava a primavera escura do espaço
Deitada na realidade,
No prado cinzento
Que sozinho chora à lua
Nesta personificação minguante do ser…
 
Os pinheiros arranhavam o vazio
Com as suas agulhas
Perfumadas pelo silêncio…
 
E o céu,
Hoje não veio para mim
Não existe a alma ínfima
De um deus
Que o possa inventar
 
Ficaste fechado no ar saturado
Da manhã,
Dormes dentro das coisas
Fechado dentro dos seus olhos,
Nas árvores sombrias carregadas
Pelo sonho
De um céu que hoje
Morreu dentro de mim…
 
Um ser
Que pinta o prado de cinza
(cor da melancolia)
E depois salpica
Pelo azul vivo
Dos olhos de um deus qualquer…
 
Que sonha sozinho
Embriagado no fumo
Deste êxtase de insónia
Que a realidade tece
Com os seus finos dedos de nada
 
Sonho nesta manhã que esquece
No orvalho fino que adormece
Nesta realidade que tarda em vir…
 
Almas baloiçam de olhar triste,
De sorriso presos pelo pensar da morte,
De uma infância que adormece
Num choro vazio,
De uma noite de realidade
 
As árvores desenham-se
Nesta leve sapiência da brisa
Que levemente toca o infinito…
 
PoReScRiTo