terça-feira, 19 de agosto de 2014

Acender do horizonte


Sosseguei os olhos
No balançar surdo do rio
Fechei-os levemente e nada pensei…

Por vezes penso em não pensar
Oiço a brisa
Ferver nos olhos brancos das algas
Cerro-os no abismo profundo
Nestes assombros de viver

O rio entra pelo meu peito
E o seu perfume a silêncio
Adentra-se neste meu nada
Ouve-se as águas tatear o escuro
Assobiam os olhares prateados
Acendem-se lentamente
Neste meu não pensar

Por vezes apenas escuto
Esqueço o horizonte…
Quando adormeço o rosto
Ele ainda ao longe vive
Com as suas cores de cinza
Pintadas no meu ser

Espero que o vento me esqueça
Que a sua voz se apague, nos lábios da seara,
Que os seus cabelos vermelhos
Deslizem uma vez mais
Por este silêncio de pensar

Senti o meu rosto apagar-se
Adormecer naquele acender
Da sombra…
Nada mais em mim vive
Senão a vontade oblíqua de viver

Os meus olhos rangem
Como duas chamas
Que se apagam no escuro,
São estrelas antigas
Que morrem a ouvir o silêncio eterno
Que arde no seu fumo…

O silêncio é eterno,
Só ele me acompanha
Na noite…
Naquele momento em que vejo
Os meus olhos,
E tudo se apaga neste seu vazio de olhar…

O silêncio apaga-se por fim…
Parece também ele morrer em mim
E não mais voltar a pensar-me
Nesse seu estar vazio…

Não penso o vento
Que me rasga o rosto
Não penso a noite que imagino no céu…
Não me penso…

Olho a lua
Que alta se desenha no horizonte
É como um fruto proibido,
A nascer do céu azul e imaginário
Desta noite oculta na brisa…

Avanço pela terra estrelada
as suas luzes apagam-se 
na lama negra
dos olhos de uma noite,
Ainda se viam os contornos
de um desses olhares de estrela
que morriam no escuro
no seu reflexo escondido

(Lua)Ela alta ilumina…
Este nada que é viver…




PoReScRiTo

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