sexta-feira, 4 de julho de 2014

Cruz de Pedra



As folhas reluziam

Como estrelas
O vento roçava-lhes a pele
Espadeirava os seus aromas

Entre ramos
Bailavam os ares
Naquelas garras de céu e noite.
Erguiam um profundo silêncio
Que se abria em grandes
Pétalas brancas

Via por entre aquelas finas agulhas
Essa luz incolor
Essa ausência metafórica
Que é o Criador,
Os galhos seguravam os seus cabelos
De oiro,
Que esvoaçavam no ar
Imaterial dos meus olhos

Estava ali entre peles e folhas
Entre ramos e ausências,
Lá habitava um rosto disperso
Que o meu olhar imaginava,
As maçãs do rosto quase apagadas
No espaço,
Um nariz fino encardido em névoa fina,
Por fim olhava um vazio escuro,
Lá bem dentro habitava um olho limpo
De paz…

O escuro brilhava
Em pequenas luzinhas prateadas
Desaparecia na ilusão dos meus olhos

Por fim
Só eu fiquei
A contemplar aquele vazio imenso
Por entre ramos de incenso
E folhas de olhar ateu…
Gotas de inferno caíam
O seu caudal de sangue
Arrastava-se no céu,
Eu olhava-as e pedia um desejo
Ele esvoaçava e ficava
Suspenso na minha sombra

Uma gota caiu-lhe no cabelo
Desfez-se lentamente
Na sua chama indolente
Via-se nos seus braços
O azul branco do céu

Pétalas de sangue pendiam
Desapareciam na pedra
Fria,
E por fim a sua sombra
Caiu,
Agora solitária

Tenho pena
De nunca ter testemunhado
A ausência do Senhor,
Tenho saudades daquele
Fio profundo de inexistência
Que ele emanava

Olhava por entre aquele cardume de folhas,
O sol desabrochava
Num daqueles ramos,
Pétalas de sangue nasciam
Daquele ventre apagado

O espaço
Apagava-se dos meus olhos
E apenas o sol ainda brilhava vermelho
Na minha desumanização…

Toda a árvore
Era um sonho vivo,
Vibrava no céu
Iluminando a terra
Com o se soprar de sombras
Um anjo branco erguia-se

Naquela intermitência luminosa do escuro…

PoReScRiTo

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