sábado, 7 de junho de 2014

Menina da Serra


O céu ao longe desaparecia
Apagava-se á figura da serra
Eu caminhava pelas pedras
Gélidas do anoitecer,
Atravessava-o suavemente na sua indiferença

…Atravessava-me…

Uma árvore brilhava ao relento,
Era ela o cristal da manhã
Que escurecia nos meus olhos,
Ela atravessava-me
Com os seus ramos sonâmbulos

Uma voz mineral
Marulhava naquele vazio,
Os seus ramos tocavam o céu
No seu arranhar doce

Estava eu a olhar
Na imensidão,
Escondido nas penas brancas da lua,
Ela adormecia-me no seu embalar eterno

Eu sonhava com o Alentejo,
As suas planícies amarelas
E rostos tórridos,
Via as suas espigas brotarem
Dos meus dias de silêncio,
Estava assim suspenso
Num luto eterno que jaz no céu
(Lua),
Ela que me embalava nas suas pétalas de brancura

São poucas as cores
Que cintilam no vento caloroso
Da minha pele,
O mar chama-lhe de horizonte
Invoca-me na minha partida,

Despeço-me por fim da serra
Que arde cristalina no céu,
No negro do universo,
Ela brilhava ingénua como
Uma criança,
Em enquanto eu me marginalizava
nas origens térreas do meu olhar

Por fim caí num abismo de brumas
Que se desfolhavam com o meu passar,
Um último sibilar da planície
Guiou-me ao esquecimento,
Um silêncio fino roçara
A rosa do céu,
Que adormecia em lágrimas
De beleza,
Com que lampejava o céu

Só paz lhe tomava os seus cabelos d`oiro
Que se transformavam em fios
Brancos de lua
Que anunciavam a despedida…
A noite desaparecia no seu rosto
De criança,
Que acordava todas as manhãs no caos do tempo
E em silêncios de tristeza ...

Dei-lhe um beijo
na sua face insípida,
ela tocara apenas a brisa
que era o meu rosto,
e juntos sonhamos um beijo
nas nuvens pálidas do céu...



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